A escalada da transformação da funcionalidade da terra em ativo financeiro na região do MATOPIBA/BRASIL - 1970 -2022
DOI:
https://doi.org/10.47236/2594-7036.2025.v9.1824Palavras-chave:
Concentração fundiária, Desigualdade socioespacial, Financeirização da terra, Função social da propriedade, MATOPIBAResumo
A modernização agrícola no Brasil promoveu profundas transformações socioeconômicas e ambientais, iniciando-se na região Sul e avançando progressivamente sobre o bioma do Cerrado, entre 1970 e 2022, especialmente a partir da segunda metade do século XX, com forte incentivo do governo federal. Na mais recente fronteira agrícola brasileira – a região do MATOPIBA, que abrange partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – a atuação tardia e seletiva do Estado brasileiro contribuiu para a intensificação da grilagem de terras e a entrada maciça de capital estrangeiro, transformando a terra em ativo financeiro disputado por grandes corporações internacionais. Este artigo tem como objetivo analisar a lógica de ocupação territorial no MATOPIBA, evidenciando os impactos da financeirização da terra sobre suas funções social, ecológica e produtiva. A metodologia adotada baseou-se em revisão bibliográfica crítica, análise de documentos oficiais e interpretação de imagens de satélite e dados vetoriais da Coleção 8 do MapBioma. Os resultados foram organizados em quatro eixos: a desconfiguração da função social da terra frente à lógica do capital; a transição da terra de objeto de apropriação humana para suporte ecológico ameaçado; a financeirização fundiária e sua conversão em ativo especulativo; e o MATOPIBA como expressão concreta da transformação territorial promovida pelo agronegócio globalizado. Conclui-se que a terra, enquanto ativo financeiro, intensifica a concentração fundiária, marginaliza a agricultura familiar e expulsa populações rurais, reverberando desigualdades urbanas e agravamento da insegurança alimentar.Downloads
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